Tragédia Ambiental de Maceió (AL) – Subsidência que deixou 57mil pessoas desalojadas

por Eng. de Minas Mario A. Ortega Noriega
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Tragédia Ambiental de Maceió (AL) – Subsidência que deixou 57mil pessoas desalojadas

SUMÁRIO

1.- INTRODUÇÃO
2.- MAIOR DESASTRE DE SUBSIDENCIA – NO BRASIL / CIDADE DE MACEIO ESTADO DE ALAGOAS
2.1.- CARACTERÍSTICAS GERAIS
2.2.- BAIRROS ATINGIDOS
2.3.-SISTEMA DE MONITORAMENTO
2.4.- NOVAS CONCESSÕES DA BRASKEM.
2.5.-LAGOA DE MUNDAU

1.- INTRODUÇÃO

Resumidamente, a “subsidência” ocorre quando a distância entre a superfície do terreno e o teto de uma escavação subterrânea resulta na ruptura do material entre as duas superfícies devido à falta de resistência. Estudos geotécnicos são necessários para evitar a ocorrência da ruptura, seja por meio da avaliação da qualidade da rocha ou pelo cálculo de sistemas de escoramento. Esse fenômeno é mais comum em minerações subterrâneas, especialmente no método de “Câmaras e Pilares”, quando os pilares são inadequadamente dimensionados ou removidos para aumentar a recuperação da extração.

A subsidência também pode ocorrer em escavações de subsolo ao passar de um nível para outro. É responsabilidade da Engenharia dimensionar e calcular com precisão para prevenir esse evento, pois ele coloca vidas em risco, além de causar impactos ambientais e econômicos significativos. Em projetos de construção de túneis, rodovias, ferrovias e, principalmente, metrôs em áreas urbanas, a subsidência é uma preocupação.

Devido aos riscos à segurança, os engenheiros devem elaborar projetos criteriosos, levando em consideração todos os parâmetros relevantes. Durante a operação, é essencial acompanhar o processo de escavação e controlar o uso de explosivos, garantindo que as cargas sejam controladas para evitar vibrações que possam afetar o material entre o teto da escavação e a superfície do terreno.

Escavações de túneis sob rios, mares, lagos, entre outros, exigem técnicas extremamente seguras. Infelizmente, nos casos em que ocorreram subsidência mencionados, fica evidente que houve falhas elementares por parte da engenharia, resultando em danos à segurança das pessoas, ao meio ambiente, ao patrimônio e causando grandes prejuízos econômicos.

2.- MAIOR DESASTRE DE SUBSIDÊNCIA – NO BRASIL / CIDADE DE MACEIÓ ESTADO DE ALAGOAS

O maior desastre de “subsidência” no Brasil foi causado pela atividade de mineração subterrânea de Sal Gema/Cloreto de Sódio pela empresa Braskem, na cidade de Maceió, estado de Alagoas. Esse desastre resultou no afundamento de seis bairros: Bebedouro, Pinheiro, Mutange, Bom Parto, Pitanguinha, Farol, afetando milhares de famílias. A situação é extremamente grave, levando ao desalojamento de mais de 57.000 pessoas, que não têm a possibilidade de retornar às suas casas ou propriedades.

A concessão de lavra DNPM/ANM nº006648/1965 pertence à Braskem e autoriza a extração de Cloreto de Sódio (sal) em operações subterrâneas dentro de uma área urbana. A empresa inicialmente envolvida foi a Sal-gema Mineração Ltda., que deu início ao requerimento em 01/09/1965, encerrando sua participação em 10/08/2004. Em seguida, a concessão foi transferida para a Trikem SA no mesmo dia e ano, e posteriormente passou para a Braskem SA. A área concedida abrange cerca de 1.897,46 hectares, o que equivale aproximadamente a 1.897 campos de futebol, localizados sob a cidade de Maceió, Alagoas. (de baixo)

AREA DA CONSESSÃO MINERAL. DNPM / ANM nº006648/1965

AREA DA CONSESSÃO MINERAL. DNPM / ANM nº006648/1965

2.1.- CARACTERÍSTICAS GERAIS:

– Processo: Lavra de sal-gema por dissolução subterrânea
– Quantidade de poços: 35 (poços verticais e direcionais)
– Profundidade: 900 a 1.200 metros
– Licenciamento: junto à ANM e IMA, conforme regulamentação brasileira
– Status: A Braskem decidiu encerrar definitivamente as atividades de extração de sal-gema na região dos bairros afetados pelo fenômeno geológico   “Subsidência”, provocado por escavação subterrânea.

Os métodos de mineração para a extração da Sal Gema – NaCl, em profundidade, em princípio seriam dois:

Dissolução Subterrânea e Câmaras e Pilares,

O primeiro método de dissolução é utilizado quando o material é solúvel na água de forma fácil.

Os Evaporítos da fase Paripueira na sub-bacia de Maceió são de grande profundidade. As camadas de Halita são mineradas pelo método de dissolução, utilizando Poços tubulares com injeção de água sob pressão pelo tubo central direcionado para a camada de sal, e este após dissolvido volta para a superfície pelo espaço anular do revestimento. Esta solução está saturada de cloreto de sódio aproximadamente 300gramas por litro.

O curioso e interessante que a indústria química processa este concentrado de Cloreto de Sódio – NaCl (salmoura saturada) de forma muito eficiente e relativamente mais barato do que processar sal solido, já que este teria que ter passado pelo beneficiamento, britagem, moagem, peneiramento e dissolução.

Este processo de mineração gera uma cavidade ovalada. Essa cavidade sofre alterações na sua forma ao longo do processo tornando difícil definir exatamente a forma nas três dimensões. Existem métodos para definir a configuração final tais como equipamentos tipo sonar, gerando sinais acústicos, fornecendo uma imagem tridimensional.

Tomemos como exemplo o método Câmaras e Pilares, onde a forma geométrica do resultado da escavação seria conhecida em qualquer profundidade. Este método é usado na mineração Taquari (Vassouras no estado de Sergipe- SE) na explotacão de cloreto de Potássio KCl, material esse, extraído através de um “shaft”( poço vertical) indo para a usina de beneficiamento, onde o cloreto de potássio é separado do cloreto de sódio utilizando um processo de flotação, sendo NaCl o rejeito do processo.

2.2.- BAIRROS ATINGIDOS.

Bebedouro, Pinheiro, Mutange, Bom Parto, Pitanguinha, Farol.

A cidade de Maceió, assim como o Estado de Alagoas, deveriam proteger os cidadãos que vivem em perigo iminente nos bairros atingidos.

Nas seguintes fotos, observa-se que as pessoas abandonaram suas propriedades, e tentando salvar alguma coisa, retiraram Janelas, portas, telhados, etc. Existe nestes bairros completa infraestrutura, colégios, hospitais, sanatórios, prédios públicos abandonados, entre outros, num total de 57.000 pessoas foram retiradas dos bairros anteriormente mencionados.

2.3.-SISTEMA DE MONITORAMENTO

Confira todos os detalhes sobre essa rede no infográfico a seguir: Em 2021, a Braskem finalizou a instalação da rede de acompanhamento técnico dos poços de sal. Foram instalados treze tiltímetros, dez sismógrafos e quatro inclinômetros.

2.4.- NOVAS CONCESSÕES DA BRASKEM.

Em 14/11/2019 a Braskem comunicou ao IBOVESPA –  Bolsa de Valores em São Paulo, “Medidas para o encerramento definitivo das atividades de extração de sal em Maceió com o fechamento dos seus poços” Foi iniciado este processo junto a Agencia Nacional de Mineração – ANM em 09/05/2019.

Paralização das suas atividades de mineração na área concedida. DNPM / ANM nº006648/1965.

A Braskem Solicitou novos Requerimentos Minerais em 31/07/2019 junto a Agencia Nacional de Mineração – ANM, Ministério das Minas e Energia MME, 07 Áreas num total de 13.725,43 hectares. Em média 1.960,78 hectares por requerimento, sendo os seguintes:

1.- ANM 844037/2019 / 2.- ANM 844038/2019 / 3.- ANM 844039/2019 /

4.- ANM 844040/2019  / 5.- ANM 844041/2019  / 6.- ANM 844042/2019 /

7.- ANM 844043/2019. 

Os moradores das cidades costeiras, com suas lindas e maravilhosas praias, de um alto potencial turístico, tais como, Ipioca, Paripueira, Barra de Santo Antônio, estão se mobilizando, para que jamais se implante uma mineração com tal grau de destruição como ocorreu nos bairros de Maceió.

O Turismo tem potencial de ser a maior fonte de riqueza do Estado de Alagoas, inclusive superior ao benefício de uma mineração de sal.

2.5.- LAGOA DE MUNDAÚ

O perigo existente nos bairros afetados com a paralização das operações de Mineração, não deixou de existir, A Lagoa de Mundaú, por se encontrar próximo a operação de Mineração da Braskem, inclusive dentro da área concedida, no Bairro de Pinheiro, apresenta um rebaixamento sistemático de 5,00  mm/mês. Por conta desse rebaixamento, poderiam ocorrer a penetração da agua da Lagoa de Mundaú para as cavidades subterrâneas da mineração, o que ampliaria o desastre tal como ocorreu na Mina de Cloreto de Sódio no Lago Peigneur, sendo este  um lago de água doce no estado da Louisiana, nos Estados Unidos, e por coincidência em Maceió existe a lagoa Mundaú que também é de agua doce.

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1 comentário

Rachel Sanches 6 de July de 2023 - 22:40

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