DEPOSITO DE ÁCIDO SULFÚRICO – H2SO4 – NO PORTO DE MACEIÓ- AL- BRASIL, DEVE SER CONSTRUIDO?
ÍNDICE
1.- Introdução
2.- Acidente no Porto de Beirute (Líbano)
3.- Acidente em Bhopal (Índia)
4.- Acidente em Visakhapatnam (Índia)
5.- Acidente em Capuava, SP (Brasil)
6.- Acidente no Porto de Houston, Texas (USA)
7.- Acidente de Oppau (Alemanha)
8.- Acidente no Porto de Tianjin (China)
9.- Acidente de Toulouse (França)
1.- INTRODUÇÃO
A cidade de Maceió, localizada no estado de Alagoas, no Brasil, é conhecida por suas belas praias e possui um enorme potencial turístico. No entanto, é crucial que as autoridades e governantes da cidade tomem cuidado na seleção de empreendimentos que possam comprometer as pessoas, o meio ambiente e o desenvolvimento real da cidade. Infelizmente, Maceió já enfrentou um dos maiores desastres ambientais causados pela empresa Braskem, que operava uma mina subterrânea de Cloreto de Sódio (Na Cl) utilizando o Método de Dissolução em uma área urbana. Isso resultou em subsidência e afundamento de seis bairros, Bebedouro, Pinheiro, Mutange, Bom Parto, Pitanguinha, Farol, desalojando cerca de 57.000 pessoas e causando perda total de residências, prédios e escolas.
O Local provável da instalação do deposito de 8.000 toneladas de Ácido Sulfúrico – H2SO4 está a 3.899,66 m. da área de Concessão Braskem (origem da subsidência) provocada pela mineração e da lagoa de Mundau, onde o solo e subsolo sabidamente ficou instável. Esta intervenção para colocar o deposito de ácido sulfúrico 8.000 toneladas, praticamente está a não mais de 4.500,00 metros, dos bairros afetados pela tragedia ambiental de subsidência.
Agora, Maceió enfrenta um novo desafio: permitir a construção de um depósito de Ácido Sulfúrico em uma área totalmente urbana, na região do porto. Esse depósito será utilizado pela Timac Agro Indústria e Comércio de Fertilizantes, uma empresa do Grupo Roullier, da França, que pretende instalar um tanque com capacidade para 8 mil toneladas de ácido sulfúrico (H2SO4). A estrutura terá aproximadamente 17,15 metros de diâmetro e 19,3 metros de altura, equivalente a um prédio de seis andares.
O porto de Maceió está localizado no bairro histórico de Jaraguá, próximo à praia da Pajuçara, onde há centenas de casas, prédios e hotéis, além de atrações turísticas como piscinas naturais. A região é densamente habitada. É importante ressaltar que o ácido sulfúrico é altamente corrosivo e seus gases são mortais. Além disso, ele se expande na atmosfera, causando chuvas ácidas e danificando tudo o que toca. O ácido sulfúrico será transportado para Maceió por navios, e espera-se receber quatro embarcações por ano, totalizando 32 mil toneladas do produto. O material será armazenado no tanque no porto até ser enviado por caminhão para uma fábrica de Fertilizantes da própria Timac, localizada no município de Santa Luzia do Norte, na Grande Maceió.
O projeto visa reduzir tempo e custos para a empresa, uma vez que o ácido sulfúrico adquirido atualmente pela Timac percorre uma distância de 591 km, passando por 22 municípios em três estados. Com a instalação do tanque no porto, a distância seria reduzida para 36 km. É importante mencionar que o armazenamento desse tipo de material foi autorizado em 2020 por meio de um decreto assinado por Jair Bolsonaro, permitindo a “movimentação e armazenagem de granéis líquidos, principalmente ácido sulfúrico” no terminal do porto.
A empresa responsável pelo projeto, Timac, afirma que realizou estudos de viabilidade técnica, econômica e ambiental do empreendimento, assegurando que serão implementadas medidas de proteção contra vazamentos e formas de contenção, a fim de evitar riscos ao meio ambiente. No entanto, é importante considerar que o risco envolvido é significativo, considerando o poder destrutivo do ácido sulfúrico, que pode contaminar o ar, água, solo e causar danos à saúde humana.
O Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA), responsável por conceder ou negar a Licença Ambiental, possui uma grande responsabilidade histórica de proteger e defender a cidade de Maceió, seus habitantes, a biodiversidade e o meio ambiente como um todo. É fundamental que a análise dos estudos de risco do empreendimento seja criteriosa e inclua consultores externos para avaliar todos os impactos potenciais. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo também apontou a necessidade de alterações em algumas etapas do projeto apresentado.
É essencial que especialistas tenham acesso a mais informações para avaliar completamente os impactos que esse empreendimento pode trazer. Embora possa ser interessante do ponto de vista econômico, é crucial considerar os riscos envolvidos. O ácido sulfúrico é amplamente utilizado na mineração, fabricação de produtos químicos, fertilizantes e defensivos agrícolas, além de outros setores industriais.
É importante que o órgão ambiental responsável pelo licenciamento ambiental do porto, o IMA, e o Conselho Estadual de Proteção Ambiental avaliem cuidadosamente o projeto e tomem uma decisão que priorize a segurança da população, a preservação do meio ambiente e a sustentabilidade de Maceió.
2.- BEIRUTE, LÍBANO – PORTO – NITRATO DE AMÔNIO (NH₄NO₃) – 04/08/2020
No Porto de Beirute, no Líbano, ocorreu uma explosão de aproximadamente 3.500 toneladas de nitrato de amônio armazenadas por seis anos em um depósito do porto. Essas substâncias eram destinadas à produção de Fertilizantes, e a explosão resultou em mais de 240 mortos, cerca de 6.000 feridos e centenas de milhares de desabrigados, abrir uma cratera de 43 metros.
3.- ÍNDIA – BHOPAL – ISOCIANATO DE METILA (C2H3NO)4 – 03/12/1984
A Tragédia ou Desastre de Bhopal foi um vazamento de gás ocorrido na noite entre 2 e 3 de dezembro de 1984 na fábrica de Pesticidas Union Carbide Índia Limited em Bhopal, Madia Pradexe, Índia.
O maior desastre industrial da história ocorreu há quase 39 anos em Bhopal, região central da Índia, e não para de fazer vítimas.
Cerca de 27 toneladas do gás Isocianato de Metila – C2H3NO vazaram de uma fábrica de Agrotóxicos desativada da companhia estadunidense Union Carbide na madrugada de 3 de dezembro de 1984. Ao menos 3.787, pessoas morreram imediatamente após inspirarem a substância tóxica, provavelmente 16.000 fatalidades e 558.125 feridas e afetadas. e não há perspectivas de evitar a contaminação das próximas gerações.
Os gases provocaram queimaduras nos tecidos dos olhos e dos pulmões, atravessaram as correntes sanguíneas e danificaram praticamente todos os sistemas do corpo.
Muitas pessoas morreram dormindo; outras saíram cambaleando de suas casas, cegas e sufocadas, para morrer no meio da rua. Outras morreram muito depois de chegarem aos hospitais e prontos-socorros. Os primeiros efeitos agudos dos gases tóxicos no organismo foram vômitos e sensações de queimadura nos olhos, nariz e garganta, e grande parte das mortes foi atribuída a insuficiência respiratória. Em alguns casos, o gás tóxico causou secreções internas tão graves que seus pulmões ficaram obstruídos; em outros, as vias aéreas se fecharam levando à sufocação. Muitos dos que sobreviveram ao primeiro dia foram diagnosticados com problemas respiratórios. Estudos posteriores com os sobreviventes também apontaram sintomas neurológicos, como dores de cabeça, distúrbios do equilíbrio, depressão, fadiga e irritabilidade, além de danos nos sistemas musculoesqueléticos, reprodutivo e imunológico.
4.- ÍNDIA – VISAKHAPATNAM – PORTO – 07/05/2020 – ESTIRENO (C8H8)
Vazamento de gás Estireno – C8H8, conhecido como Sevin e Temik, da família dos carbamatos, utilizados como substitutos de praguicidas organoclorados, (dois tanques com capacidade para 5.000 toneladas)
Deixa mortos e intoxica milhares, nuvem tóxica de até 3 quilômetros de extensão se formou nos arredores de Visakhapatnam, após vazar da fábrica da LG na cidade indiana, pelo menos sete pessoas morreram (7) e milhares foram afetadas por um vazamento de gás de uma fábrica de produtos químicos no estado de Andhra Pradesh, no sul da Índia, segundo fontes oficiais. “No momento, sete pessoas morreram e uma localidade inteira foi afetada, cerca de 2.000 famílias. No total, o número de pessoas afetadas excede 7.000”, disse à Efe a comissária da corporação municipal da cidade de Visakhapatnam, Srijana Gummalla.
5.- BRASIL – CAPUAVA, SP – ACETATO DE ETILA (CH3COOCH2CH3) – 22/06/2023
Em 22/06/2023, ocorreu um acidente no Polo Petroquímico de Capuava, SP, envolvendo a Braskem, que trabalha com derivados de Acetato de Etila (CH3COOCH2CH3). A explosão de um tanque de armazenamento de Tolueno (CH3) resultou em pelo menos três pessoas feridas e uma morte. O acetato de etila é um produto inflamável e nocivo se inalado, destacando a importância das medidas de segurança no manuseio de substâncias químicas perigosas.
6.- ESTADOS UNIDOS – PORTO DE HOUSTON, TEXAS – 16/04/1947 – NITRATO DE AMÔNIO (NH4NO3)
Navio carregando 2.300 toneladas Nitrato de Amônio – NH4 NO3 – Fertilizante ou fabricar explosivos. O Incêndio no navio francês Grandcamp, que estava ancorado e sendo carregado com nitrato de amônio. A carga, seria destinada à Europa, para ser usada como fertilizante por agricultores.
Às 9h12, houve a explosão. “O deslocamento de ar foi tremendo. Inúmeros edifícios racharam em toda a sua extensão”, disse W.H.Sandberg, vice-presidente da empresa ferroviária de Texas City
Mas o inferno ainda não havia terminado, um dos navios que pegaram fogo após a explosão, o High Flyer, também estava carregado com nitrato de amônio.
À 1h10 do dia seguinte, 16 horas após o desastre, sua carga de 961 toneladas também explodiu, matando mais duas pessoas. Mais de 5.000 pessoas ficaram feridas e 2.000 perderam suas casas.
o escritor Hugh W. Stephens no livro “The Texas City Disaster”, publicado para marcar o cinquentenário da tragédia, em 1997, mostra o que pode acontecer quando complacência, negligência, ignorância e mesmo estupidez existem em meio a circunstâncias perigosas”.
7.- ALEMANHA – OPPAU – 29/09/1921 – FÁBRICA DE NITRATO DE AMÔNIO (NH4NO3) – 29/09/1921
Explosão de Nitrato de Amônia NH4 NO3, há quase 102 anos, na Alemanha, numa fábrica da Basf ocorreu um acidente semelhante, que fez mais de 500 mortos, numa altura em que ainda se desconhecia a maioria dos perigos do nitrato de amónio.
Em 1921, em Oppau, um distrito de Ludwigshafen nas margens do rio Reno, ocorreu a explosão numa unidade da empresa Basf (sigla de Badische Anilin & Soda Fabrik), com o estrondo a ser ouvido, embora abafado, em Munique a 300 km de distância, segundo conta a Deutsche Welle.
No local do acidente, abriu-se uma cratera de 90 metros de largura, 120 de comprimento e 20 de profundidade. Morreram 561 pessoas e 1.952 ficaram feridas.
Tal como em Beirute, foram registadas duas explosões, uma inicial de menor intensidade e, em seguida, uma gigantesca, que devastou a fábrica e parte da região. Os efeitos foram incríveis: pelo menos 1.036 prédios foram completamente destruídos a 600 metros do centro de explosão e outros 928 ficaram seriamente danificados a uma distância até 900 metros. Quase todas as pessoas que moravam em Oppau ficaram desalojadas. A onda de choque destruiu os vitrais medievais da Catedral de Worms, a 13 quilómetros. Hoje sabe-se que a causa foi manuseamento descuidado do principal produto fabricado nesta fábrica da Basf: uma mistura de sulfato de amónio e nitrato de amónio usada como Fertilizante. O nitrato de amónio (cujo símbolo químico é NH4NO3) era um produto de bandeira da Basf. Foi na fábrica de Oppau que a amónia, um dos materiais necessários para a sua produção, começou a ser sintetizada em escala industrial, em 1913. A sintetização artificial do material e outros derivados de amónia teve origem em experiências dos cientistas alemães Fritz Haber e Carl Bosch entre 1908 e 1912, um processo que logo foi adquirido pela Basf. De resto o nitrato de amónia foi crucial para o governo da Alemanha nos anos seguintes, não tanto como fertilizante, mas como explosivo. Na época, as potências europeias dependiam das minas de nitrato de sódio no Chile. Isolada por um bloqueio naval dos aliados na I Guerra Mundial, a Alemanha foi forçada a expandir a produção sintética. E foi justamente a natureza explosiva do material que traçou o caminho para a tragédia de 1921. Depois da guerra, com a Alemanha derrotada, a Basf dedicava-se apenas à produção de fertilizantes.
8.- CHINA – TIANJIN – PORTO – 12/08/2015 – NITRATO DE AMÔNIO (NH4NO3)
No porto de Tianjin, na China, uma série de explosões resultou em 173 mortes, 8 desaparecidos e 798 feridos não fatais. Das 173 vítimas mortais, 104 eram bombeiros e 11 Policiais.
A segunda explosão, de maior intensidade, envolveu a detonação de aproximadamente 800 toneladas de Nitrato de Amônio (NH₄NO₃), Fertilizante, equivalente a cerca de 256 toneladas de TNT (Trinitrotolueno, C₇H₅N₃O₆).
As explosões causaram danos significativos, incêndios descontrolados e ondas de choque sentidas a vários quilômetros de distância.
A causa das explosões não foi imediatamente conhecida, mas uma investigação concluiu em fevereiro de 2016 que um recipiente superaquecido de nitrocelulose seca foi a causa da explosão inicial.
9.- FRANÇA – TOULOUSE – USINA AZF – 21/09/2001 – NITRATO DE AMÔNIA (NH₄NO₃)
Em Toulouse, na França, ocorreu uma explosão devastadora na fábrica química AZF. A explosão ocorreu no depósito de Nitrato de Amônio (NH₄NO₃) da usina, que era utilizado na produção de Fertilizantes. A explosão gerou uma enorme onda de choque, causando danos generalizados e destruição em uma área extensa. Pelo menos 31 pessoas morreram e cerca de 2.500 ficaram feridas, enquanto várias áreas residenciais e empresas foram afetadas. A investigação posterior revelou negligência e erros na manipulação do nitrato de amônio na usina como causa do acidente.
Esses desastres químicos destacam a importância contínua de medidas de segurança, regulamentações rigorosas e treinamento adequado para lidar com substâncias químicas perigosas. A conscientização pública sobre os riscos associados a essas substâncias também é fundamental. A prevenção de acidentes e a proteção da vida humana e do meio ambiente devem sempre ser prioridades na indústria química e em atividades relacionadas.
ANEXO: PARA ANÁLISE
AREA DE CONCESSÃO MINERAL DA BRASKEM (PARALIZADA)
DISTÂNCIA DOS BAIRROS AFETADOS PELA SUBSIDÊNCIA DO FUTURO DEPÓSITO DE ÁCIDO SULFÚRICO NO PORTO DE MACEIÓ